POESIA
E PROSA
Pode-se
escrever em prosa ou em verso.
Quando
se escreve em prosa, a gente enche a
linha
do caderno até o fim, antes de passar
para
a outra linha.
E
assim por diante até o final da página.
Em
poesia não: a gente muda de linha antes do
fim,
deixando um espaço em branco antes de ir
para
a linha seguinte.
Essas
linhas incompletas se chamam versos.
Acho
que o espaço em branco é para o leitor
poder
ficar pensando.
Pensando
bem no que o poeta acabou de dizer.
Algumas
vezes, lendo um verso, a gente tem de
voltar
aos versos de trás para entender
melhor
o que ele quis dizer.
Principalmente
quando há uma rima, isto é,
uma
palavra com o mesmo som de outra lida há
pouco.
Então
a gente vai procurá-la para ver se é
A
prosa é como um trem, vai sempre em frente.
A
poesia é como o pêndulo dos relógios de
parede
de antigamente, que ficava balançando
de
um lado para o outro.
Embora
balançasse sempre no mesmo lugar, o
pêndulo
não marcava sempre a mesma hora.
Avançava
de minuto a minuto, registrando a
passagem
das horas: 1, 2, 3, até 12.
Também
a poesia vai marcando, na passagem da
vida,
cada minuto importante dela.
De
tanto ir e vir de um verso a outro, de uma
rima
a outra, a gente acaba decorando um
poema
e guardando na memória.
E
quando vê acontecer alguma coisa parecida
com
um poema que já leu, a gente logo se
recorda
dele.
Geralmente
a prosa entra por um ouvido e sai
pelo
outro.
A
poesia não: entra pelo ouvido e fica no
coração.
(José
Paulo Paes – “
Vejam como eu sei escrever”-
São Paulo: Ática, 2002.)